segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O essencial para saber antes de ir à China

Minha aventura praticamente sozinha o tempo todo no gigante asiático (leia post sobre as impressões gerais) começou quando soube que iria cobrir um evento em Xangai. Imediatamente, planejei ir para Pequim para ver a muralha.  Li bastante antes de embarcar e comprei um guia — o único que encontrei na livraria foi o da Fodor's, em inglês, e que foi bastante útil. Com base na minha experiência naquele país e nas informações que absorvi de variados lugares, reúno dicas que tenho certeza vão ajudar quem estiver planejando uma viagem à China.
A moderna Xangai
Visto
Todos os brasileiros precisam de visto para visitar na China. O visto especifica até qual data você pode entrar no País e quantos dias pode permanecer, também dá a opção de uma ou mais entradas para o caso de sair e voltar durante a viagem.

Para tirar o visto, deve-se levar ao consulado chinês os documentos abaixo e pagar uma taxa (que era, no segundo semestre de 2014, de R$ 100 em dinheiro para o visto de turismo sem urgência) no HSBC até a data especificada por eles na entrega da documentação. Para quem for ao consulado em São Paulo, que fica na rua Estados Unidos, o melhor é, depois de dar entrada no visto, ir direto à agência do HSBC que na mesma rua. O consulado funciona das 9 horas ao meio-dia e quando fui não estava cheio. O visto, caso todos os documentos estejam certo, demora uns três dias úteis para sair.  

Documentação necessária — levar tudo impresso:
  • Passaporte válido por pelo menos seis meses
  • Itinerário que fará na China — especifique ao máximo lugares onde irá e as datas 
  • Passagens — se for viajar dentro da China, é bom levar também os trechos domésticos
  • Reserva dos hotéis 
  • Comprovante de renda como extrato do banco ou holerite — levar original e cópia
  • Foto 3x4 recente
Link para página do consulado que explica sobre visto.

Vacina
Eu li em vários lugares que é necessário ter vacina de febre amarela para viajar. No entanto, ninguém me pediu o certificado, nem no embarque no Brasil, nem na imigração na China. De qualquer maneira, eu acho que não custa nada tomar e levar a carteira internacional de vacinação. Os postos do SUS dão a vacina sem custo e a carteira internacional é emitida nos aeroportos, basta levar o comprovante da vacina emitido pelo SUS.

Aeroportos chineses
Passei pelos aeroportos de Xangai, Shenzhen, Xi’An e Pequim. São grandes, bonitos (o de Shenzhen, foto abaixo, impressiona) e fáceis de se virar. A sinalização é traduzida para o inglês, mas não espere muita gente falando o idioma. No balcão das companhias ou no check-in, eles falam o básico.

Tive um problema com meu voo de Xi’An para Pequim, porque comprei a passagem para 21 de outubro e não 21 de setembro quando queria embarcar. A atendente da Air China fez a mudança do voo sem custo e foi superatenciosa Detalhe: ela não falava bem inglês.

Em Xangai e em Shenzhen, eu peguei um táxi até o hotel (de 150 a 180 yuans cada trecho em ambos os casos). Já em Xi’An, peguei o ônibus do aeroporto que leva a alguns pontos centrais da cidade (26 yuan) e de lá um moto-táxi (tuk-tuk) até o Ibis. Em Pequim, testei duas maneiras. Ao chegar, usei o trem (25 yuans) que passa pelos terminais 2 e 3 e pára nas estações do metro das linhas 2 e 10 e depois usei o metrô (2 yuans o tíquete). Na volta, peguei um táxi que saiu do hotel ao aeroporto por pouco menos de 100 yuans. Achei que o táxi valeu bem mais a pena.

Alguns aeroportos, como o de Xangai e Pequim, são bem grandes e cheios. Passar pela segurança e ir até o portão de embarque tomam tempo. Assim, não custa nada chegar com uma hora e meia a duas de antecedência nos voos domésticos e três horas e meia para os internacionais. A segurança e a revista deles são mais acirradas que nos Estados Unidos, e não pode entrar com alguns tipos de carregadores portáteis.

Os voos locais, normalmente, permitem uma mala de até 20 quilos. O bizarro foi que viajei o tempo todo com a mesma mala com o mesmo conteúdo dentro e o peso dela variada de 17,5 kg a 19,8 kg, dependendo da balança do check-in.

Idioma
Exceto Pequim, onde mais gente arrisca no inglês, praticamente ninguém fala esta língua na China, principalmente nas cidades menores. Nos aeroportos, os atendentes do balcão das companhias aéreas e nos guichês de check-in eles falam o básico, assim como os recepcionistas dos hotéis (não os cinco estrelas onde eles são fluentes no idioma) e os atendentes dos escritórios de turismo nas cidades. Eles sabem explicar e informar o essencial (um discurso quase pronto), mas, se você perguntar outras coisas, é bem provável que não te entendam.

Nas ruas, nem adianta pedir informação em inglês, porque não vão entender. Li que os jovens estavam aprendendo o idioma, então, eu sempre abordava gente de uns 20 anos, mas não é verdade que todos (ou a maioria deles) falam inglês.

Em Xi’An, quando eu estava perdida tentando achar o hotel e brava porque nenhum taxista para, dois jovens de uns 30 anos me ajudaram. Eles não falavam inglês, mas resolvemos a comunicação usando  aplicativo de tradução (o Google Translator local, já que o acesso para os aplicativos do Google é difícil ou impossível). Foi assim também que me comuniquei no check-in do Ibis, pois o recepcionista não entendia inglês.

Uma dica é não elaborar muito as frases. Parece mal-educado e que você não sabe falar, mas cheguei à conclusão que desta maneira eles entendem melhor. E no fim diz xiexie que significa obrigada em chinês.

Já em Pequim, além de ter mais gente que fala inglês, o povo parece gostar de turista e te ajuda quando nota sua cara de perdido olhando o mapa.

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Comida
Eu gostei da comida chinesa. É preciso esclarecer que não sou nem um pouco fresca para comer.  Os bolinhos tipo guiosa (dumblings, em inglês) são uma delícia e tem um é tipo um pão macio e fofo com recheio de carne ou cogumelos que eu amei. Eles também fazem diversos tipos de noodles e arroz com carne, peixe e frutos do mar que são muito bons.

Já os pratos com carne ou frango vêm normalmente com um molho com cebola e pimentão. Há algumas opções picantes que você descobre quando coloca na boca, mas dá para comer. No começo, eu não pedi carne, mas depois desencanei, principalmente, quando fui a restaurantes melhores durante o período que estava trabalhando.


Eles têm bastante comida de rua. O mais comum que eu vi foram espetinhos de carne, frango (eles comem as patas das galinhas), lula (parece grelhada e com boa aparência) e ovos de codorna (no começo, achei que fosse crepe, depois que entendi que eram ovos); frutas no palito; frutas secas, amendoim, nozes a granel, entre outros. Os famosos escorpiões achei somente em Pequim em uma rua cheia de camelôs e me pareceu muito mais para turista tirar foto que algo típico.

É costume os chineses pedirem diversos pratos, que ficam no centro da mesa, e as pessoas pegam suas porções e colocam no prato individual. Em alguns restaurantes, são colocados dois haxis, um para pegar a comida compartilhada e outro para comer.

Em vários restaurantes, principalmente os mais turísticos, o cardápio tem fotos dos pratos. Assim, é só apontar o que você quer para o garçom. Como eu estava sozinha, busquei lugares onde serviram porções individuais. Em alguns, até tinha combos para escolher, por exemplo, entrada, prato e bebida.
Guardanapo é algo meio raro. Acostume-se.


Banheiro
Os banheiros públicos são bastante comuns. Tem em muitos lugares e são limpos. Mas o vaso sanitário é turco, ou seja, um buraco no chão, e se fica de cócoras para fazer as necessidades. O papel higiênico, quando tem, fica na entrada no banheiro. Sempre é bom levar lenço para caso não tenha disponível. No começo, nós, ocidentais, podemos estranhar, mas, depois de algumas tentativas, dá para “pegar o jeito” e isto deixa de ser um problema — é até mais higiênico.

Como se locomover
Não caia na bobagem de achar que as cidades chinesas são como as europeias. A diferença básica é que, nas cidades europeias, dois pontos que ficam muito distantes no mapa turístico são, na verdade, perto e você chega tranquilamente caminhando. Já na China, mesmo nas cidades menores, dois lugares perto no mapa estão, às vezes, a mais de dois quilômetros de distância. Prepare-se para andar muito.
Tuk-Tuk é uma alternativa ao táxi
Onde tiver metrô, opte por este meio de transporte. Metrô funciona igual em todos os cantos do mundo. Basta olhar onde você está no mapa e planejar o trajeto que fará até o lugar onde deseja ir. Atenção: é preciso passar por detectores de metal e raio-X antes da catraca. Há guichês automáticos e outros com atendente para comprar o bilhete que vale para ser usado somente na estação onde você estiver. Portanto, nada de comprar um monte para usar depois porque não vai rolar. Em Xangai, é preciso dizer o ponto final porque o preço muda. Conserve seu bilhete até o fim do trajeto porque precisará inserir na catraca ao sair.

As malhas dos metrôs de Pequim e Xangai são bastante amplas, te levando a todos os lugares. Em algumas linhas, os anúncios dos alto-falantes estão traduzidos para o inglês. As linhas dos ônibus também são muito extensas, o problema é que, diferente do metrô, nada está traduzido para o nosso alfabeto. Assim, você tem de saber com precisão o número da linha e onde descer. Não é fácil. Por isto, que digo para sempre optar pelo metrô.

Para pegar táxi, é obrigatório levar escrito em mandarim o nome do lugar para onde você quer ir. Nenhum fala inglês. Ao deixar o hotel, peça um cartão com o nome e o endereço para caso precise retornar em táxi. Em cidades como Xi’An, se compartilham táxis, então, você pode estar dentro e o motorista parar para pegar mais gente.

Há ainda muitos tuk-tuk, que são motinhos com uma cabine para os passageiros sentarem. Eu andei duas vezes em Xi’An e foi uma aventura, porque eles dirigem como loucos, entram na contramão, na frente de ônibus e por aí vai. É preciso negociar bem quanto vai pagar antes de entrar.  

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Água
Para nós, brasileiros, nem é preciso alertar para não tomar água da torneira, porque não é potável. Os gringos (americanos, canadenses e europeus) não entendem isto. Os hotéis onde fiquei, até o Ibis, deixavam como cortesia duas garrafas de água potável.

Onde ficar
Antes de ir, li que ou se fica em albergue da juventude ou em hotéis bons, tipo quatro ou cinco estrelas. Do contrário, o risco de ninguém falar inglês ou do café da manhã ser essencialmente oriental é grande. Eu fiquei num ótimo cinco estrelas a trabalho em Xangai; em um que me pareceu três ou quatro estrelas (banheiro todo de mármore e quarto gigante) em Shenzhen também a trabalho, mas neste ninguém falava bem inglês e no café da manhã não tinha nada ocidental.

Já por minha conta, fiquei num Ibis em Xi’An e havia apenas um recepcionista que arriscava o inglês, mas o café da manhã, apesar de pobrinho, tinha pão, geleia, manteiga, café, leite e suco de laranja. Em Pequim, fiquei num cinco estrelas muito legal que reservei pelo Booking. Só tenho elogios ao hotel.


Internet
O mais importante para saber é que na China o acesso à Internet é controlado e não dá para se conectar a redes sociais, como Facebook e Twitter. O Gmail e a página de pesquisas do Google ficam tão lentas que chega a ser impossível de acessar. Já aplicativos de mensagens de voz e texto como WhatsApp, Skype e Viber funcionam normalmente.

Para burlar este bloqueio, é preciso instalar no seu computador uma rede privada virtual (VPN, na sigla em inglês) que vai fazer com que você navegue na Internet usando um IP de outro país (como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra etc). Existem diversos serviços deste tipo fáceis de encontrar na web. Escolha um e já deixe seu notebook e/ou smartphone com a VPN instalada antes de ir. Os produtos que achei melhores foram o da VyprVPN e o da StrongVPN. Ambos são pagos. Contratei o StrongVPN por USD 21 por três meses.

Há muitos pontos de WiFi aberto espalhados pelas cidades, no entanto, isto não significa que você conseguirá acessar à Internet. Isto porque a maioria destas redes abertas pertence a alguma operadora (e tem de ser cliente da telco) ou pedem um cadastro na hora para o qual é necessário inserir o número de telefone chinês — o do Brasil não dá certo — para onde é enviada uma senha por SMS para se logar. Porém, este procedimento não funcionou comigo em nenhum momento. A triste notícia é que o Starbucks também usa o mesmo sistema.

Existe ainda a opção de comprar um SIMcard pré-pago. Sai cerca de CNY 100 e vem com algum crédito. Certifique-se de que a banda na qual seu telefone opera é compatível.
Preços altos nos serviços de bem-estar e beleza no Silk Market, em Pequim
Custo
A China não é um país caro. Come-se bons pratos nos restaurantes de 30 a 100 yuans, mas as bebidas são pouco mais caras: uma cerveja ou Coca-Cola em restaurantes por 35 yauns; água por uns 3 a 5 yuans; chá gelado ou café por cerca de 20 a 30 yuans — no aeroporto de Shenzhen um expresso estava por entre 35 e 60 yuans. (Cotação: eu paguei R$ 0,42 cada unidade de yuan e lá na China cada USD 100 dava cerca de 600 yuans.)

O tíquete de metrô é praticamente de graça (2 yuans em Pequim e entre 3-5 yuans em Xangai). Andar de táxi não é muito caro, mas pode ser complicado por causa da barreira do inglês. Certifique-se sempre de que o taxímetro está ligado — principalmente em Xangai onde eles adoram dar o golpe. Eu diria que o táxi é preço de Rio de Janeiro ou menos.

Todas as atrações turísticas são pagas e o preço varia bastante. Para entrar nos parques de Pequim, por exemplo, pode-se pagar apenas a entrada ou o pacote com ingresso para os templos (algo que vai de 15 a 60 yuans). Excursão para os Guerreiros de Terracota sai entre 350 e 550 yuans e para muralha por 260 a 400 yuans — agências com passeios especializados, como, por exemplo, andar de bike cobram mais caro, uns 900 yuans.
Silk Market, em Pequim, logo na saída do metrô
Compras
Alerta antes de tudo: eu não sou uma pessoa chegada a fazer compras. Comecei a me empenhar mais neste assunto nas viagens a trabalho para Las Vegas quando sobra um tempo e dou um pulo nos outlets (leia post).

Engana-se quem vai à China achando que encontrará lojas eletrônicos a cada esquina e camelôs espalhados pelas ruas. Existem pontos para isto onde, normalmente, são abarrotados de turistas. No resto, as ruas são como as de qualquer capital, mesclando lojas de redes internacionais como lojas locais. E nestes lugares os preços estão mais para Brasil que para os sites chineses de compra pela internet que agora fazem muito sucesso entre a mulherada.

Exemplos: um vestido ou blusa bonita numa loja local mais descoladinha custa 350 yuans; outdoors da H&M destacam peças por 200 yuans (impossível dizer o que era); Zara e Gap com preços pouco mais baratos que os praticados no Brasil, mas nada de ser a metade do valor.

Ao lado das atrações turísticas ou em alguns lugares de Pequim, Xangai e Xi’An, havia ruas inteiras com barraquinhas e lojinhas de souvenirs, acessórios falsificados, entre outros, mas nada diferente do que se encontra na rua 25 de Março.

Já o chamado Silk Market, em Pequim, é tipo um stand center com lojas que vendem tudo falsificado: camisas, bolsas, malas, calças etc. encontram-se também lenços e pérolas. Neste lugar, é obrigatório pechinchar porque se leva a mercadoria por um terço do que estão pedindo. Mas, se barganhar e não comprar, toma bronca brava dos vendedores — uma foi bastante agressiva comigo, inclusive.

Fuso
A diferença de horário é enorme e na China estamos no horário inverso ao do Brasil. Por isto, o nosso organismo demora um pouco a se acostumar (no meu caso, levou uns três dias). Na primeira noite, dormi bem, das 22 h às 3 h; na segunda, da meia-noite às 3 horas e esta foi a pior, porque fiquei estragada no dia seguinte. Na terceira noite, foi quando as coisas começaram a melhorar: dormi das 22 h às 3 h, acordei, trabalhei e dormi de novo das 5h30 às 8 horas. A partir daí eu praticamente entrei no fuso, mas sempre capotava umas 22 h, 23 h e acordava não mais que 6h30.

Eu amei a China e gostaria muito de voltar para conhecer outras cidades. Se estiver com medo do diferente, deixe-o de lado e vá. A China é mais parecida com o Brasil do que você pensa!

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